Ritmo é 3,5 vezes superior ao aumento populacional do Rio Grande do Sul
Os congestionamentos que desafiam a paciência dos motoristas nas principais cidades do Estado representam também um descompasso estatístico: em um ano, a frota gaúcha cresceu 3,5 vezes mais do que a população. No mesmo período em que a frota ganhou 293,1 mil veículos, a população cresceu apenas 84 mil, chegando a 10.187.798.
Enquanto o total de veículos emplacados em 2009 aumentou 6,74% em relação ao ano anterior, chegando a 4,4 milhões de veículos, a taxa média de incremento da população não passou de 0,8%.
O contraste é revelado a partir do cruzamento de dados divulgados ontem pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran/RS) com estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para o supervisor de informações do IBGE, Ademir Loucher, o cenário representa um desafio:
– Temos uma média de 2,9 pessoas para cada veículo, é multo alto, praticamente um automóvel por domicílio ou família. Em Porto Alegre a situação é pior, porque temos mais de 250 mil pessoas que se deslocam de municípios vizinhos. É óbvio que as estradas não comportam – diz Ademir.
O alerta é respaldado por especialistas da área, como o professor João Fortini Albano, doutor em transportes e integrante do Laboratório de Sistemas de Transportes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo Albano, apenas em Porto Alegre a média é de quase cem novos veículos por dia em circulação. Impulsionado pelo maior poder de compra trazido pela estabilidade econômica à população e por incentivos fiscais oferecidos pelo governo como estratégia para manter empregos no setor, diante da crise no sistema financeiro internacional, o boom na compra de veículos tem como consequência um agravamento nos problemas de fluxo.
– O gestor precisa correr atrás para dar conta dessa situação. Há estudos que demonstram que o Brasil teria capacidade para quase dobrar a frota em 10 anos, só que o problema é a estrutura viária. Existe um conflito pela disputa do espaço urbano – analisa.
O pior é que os problemas só tendem a crescer, alerta o engenheiro João Hermes Nogueira Junqueira, professor da área de trânsito e transportes da Unisinos:
– Não é algo que está acontecendo só no Brasil, no mundo inteiro o número de usuários de transporte público vem diminuindo. Isso demonstra desenvolvimento, é bom que as pessoas tenham essa liberdade, o problema são as malhas viárias, que precisam de mais investimento – diz o especialista.
O diretor-técnico do Detran, Ildo Mário Szinvelski, reconhece o impacto no trânsito, mas diz que medidas estão sendo tomadas, como a fiscalização, a formação de condutores, o investimento na educação para o trânsito e a punição dos motoristas infratores.
– Todavia, se fazem necessários para esse enfrentamento investimentos viários e em outros modais, como a utilização de hidrovias e metrôs.